quarta-feira, agosto 31, 2005

O Beijo...


Este quadro é fabuloso... a cumplicidade e a sensualidade de um beijo... delicioso!!!

domingo, agosto 28, 2005

O Meu Amor

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo, ri do meu umbigo
E me crava os dentes

Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me deixar maluca quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba mal feita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios, de me beijar os seios
Me beijar o ventre e me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo como se o meu corpo
Fosse a sua casa

Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz

by Chico Buarque in Ópera do Malandro

quarta-feira, agosto 24, 2005

Silêncio

O objectivo deste blog não é nada mais que expor alguns textos que por algum motivo me tocam.
Por isso deixo-vos um texto que li num blog que aconselho a todos: www.takearabbithome.blogspot.com

Silêncio
Olho repetidamente para ele, como se as batidas do coração dependessem da sua frequência.
As horas passadas ao telefone perderam-se no silêncio dos teus gestos.
O pequeno envelope, um sinal de esperança, deixou de piscar.
Tento descortinar alguma anomalia que o justifique.
Já me justificaste, eu sei. Mas mesmo assim, a vontade não se deveria sobrepor a tudo isso? Pensei que a minha presença se tinha tornado indispensável. Indispensável não, mas viciante.
Tens o poder do silêncio.
Para ti, é um reflexo da confusão que se encontra a tua vida, para mim é o oxigénio que escasseia.
Para ti, é um bálsamo, para mim, veneno.
É amante, é pecador. Nem as memórias escapam à sua sedução. O último suspiro vigilante chega ao sabor da tua voz, de forma como te ris, como me olhas, como te moves…
O despertar esse é perverso, quase cruel onde a realidade demora assentar para um novo dia sem ti…
O silêncio, o teu, deixou de ter voz. E com ele, a forma como me ouvias.
Esboçava sonhos com os teus contornos. Sem os muros do costume, eras tu que os preenchias, e eu deixava.
Agora, os contornos estão cada vez mais ténues, fazes questão em os apagar.
Sinto-me excluído…Quero desistir. Peço-te que não me deixes.

terça-feira, agosto 23, 2005

O meu poema favorito...

O GUARDADOR DE REBANHOS

Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.

Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.

Como um ruido de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.

Pensar incomóda como andar á chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.
Não tenho ambições nem desejos.
Ser poeta não é uma ambição minha.
É a minha maneira de estar sozinho.

E se desejo ás vezes,
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita coisa feliz ao mesmo tempo),
É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.

Quando me sento a escrever versos
Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,
Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,
Sinto um cajado nas mãos
E vejo um recorte de mim
No cimo d´um outeiro,
Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas ideias,
Ou olhando para as minhas ideias e vendo o meu rebanho,
E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz
E quer fingir que compreende.

Saúdo todos os que me lerem,
Tirando-lhes o chapéu largo
Quando me vêem à minha porta
Mal a diligencia levanta no cimo do outeiro.
Saúdo-os e desejo-lhes sol,
E chuva, quando a chuva é precisa,
E que as suas casas tenham
Ao pé duma janela aberta
Uma cadeira predilecta
Onde se sentem, lendo os meus versos.
E ao lerem os meus versos pensem
Que sou coisa natural
- Por exemplo, a árvore antiga
Á sombra da qual crianças
Se sentavam com um baque, cansados de brincar,
E limpavam o suor da testa quente
Com a manga do bibe riscado.

Alberto Caeiro