quarta-feira, dezembro 21, 2005

Presente de natal

Quero vestir-me de prenda e ficar junto à tua árvore de Natal
ali, sossegada, à espera que me encontres

Que abras o embrulho, ansioso pela descoberta
um laço, uma fita, por fim o papel
Lá dentro estou eu, à tua espera
enquanto o meu corpo desespera
vem, depressa, não demores!

Quero ser a prenda que nunca tiveste
o brinquedo com que sempre sonhaste

Estou aqui, sou tua
para tu brincares, para te dar prazer
por uma noite, por um dia
pelo tempo que me quiseres
De Corpo e Alma

segunda-feira, dezembro 12, 2005

All I want for Christmas...


O Pai Natal podia ser bonzinho este ano...

Eu peço pouco...

All I want for Christmas is You...

sexta-feira, dezembro 09, 2005

O meu olhar

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...

Alberto Caeiro

domingo, dezembro 04, 2005

Elogio ao amor

Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas.
Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.

O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade.

Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria. Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo".

O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas. Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço.

Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?

O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental".

Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.

O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma.É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir.

A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um minuto de amor pode durar a vida inteira.

E valê-la também.

Miguel Esteves Cardoso

segunda-feira, novembro 21, 2005

quinta-feira, novembro 17, 2005

Para reflectir...

"Os ventos que às vezes tiram algo que amamos são os mesmos que nos trazem algo que aprendemos a amar. Por isso, não devemos chorar pelo que nos foi tirado, e sim aprender a amar o que nos foi dado. Pois tudo aquilo que é realmente nosso nunca se vai para sempre."

Fernando Pessoa

segunda-feira, novembro 14, 2005

Porque ainda espero...

Dali - Mulher à janela
continuo à espera, noite após noite...
como é possível que alguém, que se tornou tão ausente, me faça tanta falta?

sexta-feira, outubro 28, 2005

A tortura

Todas as mulheres deviam ser fortes e nunca perdoar uma traição.
Mas a verdade é que a um homem com tanta sensualidade como o Alexandro Sanz até perdoava!!!!

A Shakira tem razão quando diz que é uma tortura perdê-lo!!!

sexta-feira, outubro 07, 2005

O Amor e a Amizade

O Amor pergunta à amizade:
- Mas para que é que tu serves?

E a Amizade responde:
- Sirvo para limpar as lágrimas que tu deixas cair.


Eu sei que é lamechas... mas achei-a tão engraçada...

quarta-feira, setembro 21, 2005

O primeiro beijo


"Há momentos na nossa vida que não esquecemos, por mais que o tempo passe.
Talvez por isso saiba o instante exacto em que me apaixonei por ti.
Nunca esqueci aquele beijo que trocámos, em que as nossas almas se tocaram...

Na altura não percebi o quão intenso foi o momento.
Nesse dia recordei o teu sorriso, o teu olhar, o prazer que existiu... mais que esse beijo.
Nesse dia brincámos, rimos, gozámos, fomos amantes.
Nesse dia o mundo sorriu para mim e eu nem percebi!

Hoje recordo os nossos corpos lado a lado, os dedos entrelaçados, as cabeças na almofada, os olhos fechados, as bocas coladas... aquele beijo, tão especial.
Recordo o instante em que foste meu, como nunca depois aconteceu.

Prometi-te que não me apaixonaria por ti, achei que isso nunca iria acontecer.
Mas não cumpri essa promessa.
Como seria possível não te amar?
Tu, o meu princípe encantado do conto de fadas onde eu nunca fui princesa..."

Floreca in Levemente Erótico

... fui princesa.... mas apenas por breves momentos...

quarta-feira, setembro 14, 2005

Acho tão natural que não se pense...

"Que pensará isto de aquilo?
Nada pensa nada.
Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?
Se ela a tiver, que a tenha...
Que me importa isso a mim?
Se eu pensasse nessas cousas,
Deixaria de ver as árvores e as plantas
E deixava de ver a Terra,
Para ver só os meus pensamentos ...
Entristecia e ficava às escuras.
E assim, sem pensar tenho a Terra e o Céu."
Alberto Caeiro
P.S. - porque há coisas que não valem o esforço de pensar nelas...

terça-feira, setembro 06, 2005

Pensamento do dia

"Ter saudades do passado é como correr atrás do vento." - Provérbio Russo

sexta-feira, setembro 02, 2005

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu ladotodas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certezade que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus."

Eugénio de Andrade

... porque é preciso ouvir um adeus para saber que foi o fim...

quarta-feira, agosto 31, 2005

O Beijo...


Este quadro é fabuloso... a cumplicidade e a sensualidade de um beijo... delicioso!!!

domingo, agosto 28, 2005

O Meu Amor

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo, ri do meu umbigo
E me crava os dentes

Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me deixar maluca quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba mal feita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios, de me beijar os seios
Me beijar o ventre e me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo como se o meu corpo
Fosse a sua casa

Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz

by Chico Buarque in Ópera do Malandro

quarta-feira, agosto 24, 2005

Silêncio

O objectivo deste blog não é nada mais que expor alguns textos que por algum motivo me tocam.
Por isso deixo-vos um texto que li num blog que aconselho a todos: www.takearabbithome.blogspot.com

Silêncio
Olho repetidamente para ele, como se as batidas do coração dependessem da sua frequência.
As horas passadas ao telefone perderam-se no silêncio dos teus gestos.
O pequeno envelope, um sinal de esperança, deixou de piscar.
Tento descortinar alguma anomalia que o justifique.
Já me justificaste, eu sei. Mas mesmo assim, a vontade não se deveria sobrepor a tudo isso? Pensei que a minha presença se tinha tornado indispensável. Indispensável não, mas viciante.
Tens o poder do silêncio.
Para ti, é um reflexo da confusão que se encontra a tua vida, para mim é o oxigénio que escasseia.
Para ti, é um bálsamo, para mim, veneno.
É amante, é pecador. Nem as memórias escapam à sua sedução. O último suspiro vigilante chega ao sabor da tua voz, de forma como te ris, como me olhas, como te moves…
O despertar esse é perverso, quase cruel onde a realidade demora assentar para um novo dia sem ti…
O silêncio, o teu, deixou de ter voz. E com ele, a forma como me ouvias.
Esboçava sonhos com os teus contornos. Sem os muros do costume, eras tu que os preenchias, e eu deixava.
Agora, os contornos estão cada vez mais ténues, fazes questão em os apagar.
Sinto-me excluído…Quero desistir. Peço-te que não me deixes.

terça-feira, agosto 23, 2005

O meu poema favorito...

O GUARDADOR DE REBANHOS

Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.

Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.

Como um ruido de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.

Pensar incomóda como andar á chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.
Não tenho ambições nem desejos.
Ser poeta não é uma ambição minha.
É a minha maneira de estar sozinho.

E se desejo ás vezes,
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita coisa feliz ao mesmo tempo),
É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.

Quando me sento a escrever versos
Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,
Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,
Sinto um cajado nas mãos
E vejo um recorte de mim
No cimo d´um outeiro,
Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas ideias,
Ou olhando para as minhas ideias e vendo o meu rebanho,
E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz
E quer fingir que compreende.

Saúdo todos os que me lerem,
Tirando-lhes o chapéu largo
Quando me vêem à minha porta
Mal a diligencia levanta no cimo do outeiro.
Saúdo-os e desejo-lhes sol,
E chuva, quando a chuva é precisa,
E que as suas casas tenham
Ao pé duma janela aberta
Uma cadeira predilecta
Onde se sentem, lendo os meus versos.
E ao lerem os meus versos pensem
Que sou coisa natural
- Por exemplo, a árvore antiga
Á sombra da qual crianças
Se sentavam com um baque, cansados de brincar,
E limpavam o suor da testa quente
Com a manga do bibe riscado.

Alberto Caeiro